quinta-feira, 27 de agosto de 2009

REDEFININDO O PAPEL DA SUPERVISÃO/COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

Autora: Elimar Cristina A. de Lima Tolentino[1]


Atualmente, a coordenação pedagógica ou supervisão educacional, tem passado por um momento de reflexão e redefinição do seu papel no contexto escolar, pois ao dirigirmos nosso olhar para o desempenhar desta função dentro da escola, encontramos um profissional que muitas vezes tem clara consciência das suas responsabilidades e atribuições, mas que não consegue organizar plenamente seu trabalho e dar vazão a sua competência devido as urgências do dia-a-dia escolar.

Este ensaio tem por objetivo trazer à reflexão o papel do coordenador[2] dentro do contexto escolar, explorando com fins de sanar, as mazelas acumuladas por anos de incompreensão e de confusão sobre sua real função dentro da escola, esclarecendo o nível de importância que este individuo tem como articulador entre os vários segmentos da escola, bem como, expor o perfil exigido deste profissional frente aos desafios e necessidades que a sociedade moderna, os alunos e os processos de ensino e aprendizagem impõem à escola, pois:

A coordenação é um aspecto da direção, significando a articulação e a convergência do esforço de cada integrante de um grupo visando a atingir os objetivos.Quem coordena tem a responsabilidade de integrar, reunir esforços, liderar, concatenar o trabalho de diversas pessoas.(LIBANEO,2001,P.179)

Primeiramente, há que se desfazer antes de redefinir o papel do coordenador, as implicações negativas que tornaram mal vista a figura do coordenador, tendo até mesmo sua presença indesejada nas salas de aula, pois era tido como um controlador que se fazia presente para fiscalizar e denunciar os “maus feitos” docentes, como se estes existissem; a visão do intruso no espaço que lhe não era pertinente incomodava, e dessa relação confusa e tensa criou-se um mal estar entre docentes e coordenadores, que começa a ser superado agora quando fluem as discussões sobre a função articuladora do coordenador, e devido a alguns profissionais que foram à frente do seu tempo, buscando recriar o caminho que colocaria docentes e coordenadores como parceiros e colaboradores visando o sucesso da escola.

O coordenador pedagógico era tido como um sujeito dissociado de humanidade, como se este não tivesse um historia de vida e um contexto social, e como se ele não fosse também um educador, por isso é necessário resgatar a identidade deste profissional, como afirma Franco (2005) apontando o caminho para a reconstrução da identidade do coordenador:

Proporcionar ao coordenador pedagógico as condições para confrontar-se com a construção de sua identidade é uma maneira de aprofundar as reflexões sobre sua formação como educador; é captar em sua história de vida os anseios produzidos;os projetos pressentidos; os saberes elaborados. É focar não apenas o coordenador e seu discurso, mas sua realidade interpretada.

É na escola, o espaço mais educativo da sociedade, que este coordenador deve ter este momento de confrontação e de introspecção, de olhar para dentro de si, para suas ações, suas idéias e concepções, visando perceber-se e construir-se em sua função, pois “a escola é vista como um ambiente educativo, como espaço de formação, construído pelos seus componentes, um lugar onde os profissionais podem decidir sobre seu trabalho e aprender mais sobre sua profissão”(LIBÂNEO.2001.p.20), portanto é preciso que a escola , num processo de organização de fazeres, requeira de todos os seus profissionais um “espírito” de colaboração e de compreensão sobre a função de cada um , não visando uma fragmentação, nem individualismos predatórios, mas visando uma melhor distribuição de tarefas que podem e devem ter adequação funcional, pois como nossa experiência já constatou, quando este acúmulo de funções acontece, é sobre o coordenador que pesa esta mescla de papéis e afazeres, deste modo concordamos com Silva:

A escola é um sistema social, exigindo, para subsistir, que os papéis estejam claramente diferenciados e designados. Os indivíduos que desempenham papéis devem ser adequadamente treinados e distribuídos entre as diferentes posições. Enfim, todos os atores podem relacionar-se, uma vez que, aceitem as mesmas normas sobre os objetivos que buscam e os meios que empregam para alcançá-los. (SILVA,1981,P.10)

Quando a escola se reorganiza funcionalmente o coordenador encontra espaço para assumir sua função articuladora entre o administrativo, a comunidade e o pedagógico, sobre as quais vamos discorrer breves considerações, para que possamos ter uma visão da coordenação com sua mobilidade face aos vários segmentos da escola.

ARTICULANDO COM O ADMINISTRATIVO: o coordenador precisa caminhar junto com a gestão escolar e ser um profundo conhecedor dos objetivos da instituição, pois ele é o elo que aproxima a administração do processo de ensino- aprendizagem, tendo uma visão horizontal de toda a escola , pois ao mesmo tempo que acompanha a prática docente e as dinâmicas do corpo vivo que é a escola, pode auxiliar a gestão gerenciando a participação de professores e outros funcionários para que estes participem com ações, sugestões, opiniões e soluções diante das situações e decisões que a escola precisa tomar mantendo sempre o foco sobre a função social da escola: “a educação através do ensino” (VASCONCELLOS.2007.p.88).

O coordenador e o diretor exercem funções diretivas; o primeiro é articulador do trabalho didático pedagógico e o segundo é dirigente responsável pela escola, mas para que ambos os trabalhos tenham êxito, é necessário que as pessoas que desempenham estas funções apresentem características de liderança, tais como autoridade, responsabilidade, decisão, disciplina e iniciativa; estes dois cargos dentro da escola precisam estar concatenados e em conformidade com os objetivos da instituição.

ARTICULANDO COM A COMUNIDADE: as relações entre a escola e a comunidade precisam ser fortalecidas, e fazendo esta ligação encontramos o coordenador, um profissional que esta próximo as famílias por causa do contato direto com os alunos e também sempre próximo a direção devido a mobilidade de sua função, e nesta posição ele traz a escola para mais perto da realidade que a cerca, e leva as famílias a um maior envolvimento com a vida escolar dos seus filhos, gerando assim um trabalho cooperativo e uma integração necessária entre estas duas instituições responsáveis pela educação, como define a Constituição Federal de 1988 no artigo 205 “ A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Uma das características da gestão participativa é o envolvimento da comunidade na vida da escola, um trabalho que pode ser realizado pela coordenação para auxiliar a direção da escola, tendo em vista a mobilidade deste profissional.

ARTICULANDO COM O PEDAGÓGICO: o coordenador pedagógico está diretamente ligado aos agentes produtores do processo de ensino-aprendizagem, isto é, professores e alunos, ele se coloca como um mediador entre estes agentes e a formação humana; mais do que um líder da equipe docente, é um porto seguro onde os professores podem encontrar abrigo, apoio, incentivo, sugestões e críticas com visão de direcionamento; o coordenador precisa oportunizar aos professores a visão do todo, possibilitando espaço para a auto-avaliação da práxis docente com suas contradições e posições assertivas; por outro lado este profissional tem ligações intensas com os alunos, acompanhando seu desenvolvimento, estimulando-os a enfrentar com mais dedicação os desafios da vida estudantil, estabelecendo uma comunicação com os responsáveis pelos alunos visando a solução de situações que emperrem o pleno desenvolvimento discente.

Ao coordenador é delegada a função de organizar o trabalho coletivo dentro da escola, de forma interativa e direta com os professores, visando a qualidade do ensino, observando com eles (docentes) as condições reais e possíveis, que auxiliarão a construção de um trabalho eficaz, e de forma indireta com os demais membros da escola:

Assim, é possível compreender que a atuação do coordenador pedagógico está ligada aos processos de aprendizagem (Vasconcellos.2007), que acontecem a todo momento na escola e que produzem a formação humana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Constituição Federal de 1988 ,artigo 205.
FRANCO, Maria Amélia Santoro. Práxis pedagógica como instrumento de transfor- mação da prática docente.In:Reunião Anual da ANPEd, 28.,2005,Caxambu,MG.
Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/28/textos/gt04/GT04-46--Int.rtfA. Acesso em:20 mar.2009 às 19:30.
LIBÂNEO,José Carlos.Organização e gestão da escola:teoria e prática. Goiânia: Editora Alternativa,2001.
PERRENOUD, Philippe. Práticas Pedagógicas, profissão docente e formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote. 1993.
SILVA, Naura Syria Corrêa. Supervisão educacional. Petrópolis, RJ: Vozes, 1981.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos.Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad Editora,2007.

[1] Professora do Ensino Fundamental séries iniciais da REME, professora da disciplina Organização do Fazer Pedagógico na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental do curso Normal Médio da SED-MS Módulo 2009, Assessora educacional e palestrante na área de formação e capacitação de professores pela Principios Assessoria e Apoio Educacional, graduada em Pedagogia pela UFMS em 1997, pós-graduanda em Coordenação do Trabalho na Escola: Ênfase na Gestão Pedagógica e Inspeção Escolar-IESF.Contato: elimarcris@gmail.com
[2] Neste texto utilizaremos a terminologia COORDENADOR PEDAGOGICO para nos referirmos também ao supervisor educacional.